Entendendo o Rio de Janeiro...

A primeira vez que fui ao Rio de Janeiro foi em 1981, com minha família em visita aos meus Tios João Dimas e Tia Julinha que moravam lá. Por fotografias vejo o quanto foi divertida e familiar a visita, em companhia de meus "priminhos" Orlando, Gustavo e Marininha. Desde então nunca mais tinha ido lá. Recentemente, em 2006, conscientemente conheci o Rio de Janeiro! Mais precisamente na show histórico dos Rolling Stones na praia de Copacabana. Amei o Rio. Cidade maravilhosa e local que me cativou ao ponto de hoje eu querer um dia morar lá. Imprecionante a energia positiva e a qualidade de vida da cidade.
O que tem me imprecionado desde então, é a discrepancia desta qualidade de vida, que é verfificada não só no Rio, mas em todo o Brasil. A maioria das pessoas a condenan por sua seus altos indices de criminalidade e violência, mas nunca se vê ninguem mencionar, ou mesmo atacar as origens do problema.
Foi por esta razão que, lendo o artigo DE MALANDROS À MANÉS , do eficiente Cláudio de Moura Castro, consegui enchergar um pouco sobre a linha imaginária e moral que divide as pessoas que vivem no Rio de Janeiro.
A seguir segue o texto na íntegra. Aloha Rio.

De malandros e manés

"É inegável o Rio do malandro. Menos visíveis, mas também inegáveis, são a vida e a força do outro Rio. É o Rio careta, dos que frequentam livrarias e salas de concerto, em vez de praias e baladas"

Rio de Janeiro (onde nasci) evoca uma imagem clássica. É a pátria do malandro. É o reino da esperteza, do "golpe", da falta de seriedade proclamada como virtude redentora. É o campo de provas da lei de Gerson, prescrevendo que é preciso levar vantagem em tudo. Não são poucos os prejuízos trazidos pela cultura da malandragem. É alarmante o número de empresas cuja sede fugiu para São Paulo. No nosso cotidiano, é difícil não ter um calafrio ao deixar o carro para consertar em uma oficina carioca. Do lado mais ameno, é o território do bom humor, da piadinha maliciosa e da inexplicável alegria diante da desgraceira.
O malandro carioca é assunto canônico dos sambistas: "...Navalha no bolso / Eu passo gingando / Provoco e desafio / Eu tenho orgulho / Em ser tão vadio. / Sei que eles falam / Deste meu proceder / Eu vejo quem trabalha / Andar no miserê / Eu sou vadio / Porque tive inclinação" (W. Batista). Bezerra da Silva imortaliza o perfil: "Malandro é malandro e mané é mané".
Essa caracterização popular tem respaldo acadêmico e raízes históricas. Roberto da Matta intitula seu livro clássico de Carnavais, Malandros e Heróis. Segundo ele, na sua origem, "o malandro é o nobre pé-rapado, o sujeito que viu os aristocratas lendo e escrevendo, não teve educação para entender o eventual valor da escola e vive de expediente". José Murilo de Carvalho mostra a imagem do malandro carioca emergindo como reação à alienação engendrada por confrontos políticos no início do século XX. Fala de "irreverência, de deboche, de malícia". Se digitamos no Google "malandro" junto com "Rio de Janeiro", aparecem 200 000 referências.
Ilustração Atomica Studio
Porém, há outro Rio de Janeiro, menos lembrado. Durante séculos, por ser a capital econômica e política do país, atraiu as melhores cabeças. Inicialmente, desembarcou a corte de Portugal, com seus mais destacados figurantes. Por muito que seja criticada, é preciso reconhecer, ela criou uma aristocracia intelectualizada, que se perpetua ao longo dos anos. Desde sempre, atraiu os mais inspirados intelectuais das províncias. Até há pouco, foi um magneto para escritores e cientistas, mesmo de São Paulo. A despeito de décadas de desgoverno, ainda tem as melhores escolas médias, um plantel de grandes intelectuais e notáveis centros de pesquisa e pós-graduação. A lei de Gerson passa longe.
Que cara tem esse outro Rio? Sugiro que tem a cara de dom Pedro II. Eis um carioca arquétipo dessa outra persona do Rio. Ao morrer, foi considerado a cabeça coroada mais culta de quantas havia na Europa. Dom Pedro é o outro Rio: sério, digno, disciplinado, erudito. Era o caretão rematado, a figura do antimalandro. Em vez de beija-mãos na corte, promovia saraus intelectuais e trocava cartas com Victor Hugo, Humboldt, Lamartine e Jean-Louis Agassiz, notável zoólogo e geólogo suíço.
É inegável o Rio do malandro. Menos visíveis, mas também inegáveis, são a vida e a força do outro Rio. É o Rio careta, dos que frequentam livrarias e salas de concerto, em vez de praias e baladas. Por anos de convivência, é um Rio incólume e vacinado contra o vírus da malandragem. O grande paradoxo é a incapacidade desse Rio intelectualmente tão sério e bem-dotado de frear o desgoverno que aos poucos foi se infiltrando. A malandragem pitoresca virou bandidagem, com a desmoralização resultante. Inapetência dos "puros" de chafurdar na política? Talvez. Os bons são muito poucos? Acho que não. Estão por todos os lados. Mas não chamam atenção, por serem menos pitorescos e divertidos. Aliás, dom Pedro II gostava mesmo era de um papo cabeça.
Mas, se o Rio tiver alguma arma secreta para reverter sua decadência, com certeza, será esse enorme e possante segmento, estilo dom Pedro II, que representa o oposto da malandragem e possui um respeitável vigor intelectual e moral. Vamos torcer para que decida salvar a sua cidade. "O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos nem dos desonestos nem dos sem ética... (mas) o silêncio dos bons" (M. Luther King).

2 comentários:

  1. Con ... primeiro meus parabens, ficou bom demais o Blog ... o link já está nos meus blogs, com convite para meus alunos e e-mail para meus contatos ... não só porque voce é uma pessoa tão especial pra mim, a Cris e o Victor Hugo, mas porque você é verdadeiro naquilo que faz ...
    Como curiosidade, quando falei da pena de morte disse que Dom Pedro II tinha contatos com Victor Hugo, tinha lido isso em algum lugar e agora vejo no seu blog a confirmção ... muito legal. Fique sempre com Deus ...

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  2. Junior meu amigo, sua opinião me é extremamente importante. Dá norte.
    Sou seu fã. Abraços

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